quarta-feira, 18 de abril de 2012

Poesia... sempre





Hoje a comemoração é de Antero de Quental aqui e por isso  deixo-vos uma homenagem da sua grandiosidade

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre idéias e espíritos pairando...

Que é o mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E d'entre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só presentido...

Antero de Quental, in "Sonetos"




Mas porque me enviaram e achei que também era de interesse que lessem o poema de Mário de Andrade, aqui fica para refletirem porque encerra tudo aquilo que devemos pensar para nós, os que já passaram a meia idade.




Contei meus anos...

MARIO DE ANDRADE

Contei meus anos
e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já
vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando
seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos
inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de
secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos?.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha
alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito
humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer
a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade
(1893-1945)


E eu desejo que continuemos a encontrar-nos.

2 comentários:

  1. "E eu desejo que continuemos a encontrar-nos."

    Hoje, e sempre.

    bjsgdsmtsgds

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  2. OLá Tété

    Que bem que me sabe vir aqui e ler um pouco de poesia, ou não gostasse eu tanto de escrever, embora não possa chamar poesia ao que escrevo, mas sim "estados de alma".

    Um beijinho grante
    Teresa

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