Lembro-me muito bem deste dia. Lembro-me deste noticiário, dos receios da minha mãe e da minha avó em me deixar sair de casa.
Fui avisada por um colega, cerca das 07.00 h que seria melhor não avançar para o escritório porque tinha havido uma revolução para derrubar o regime.
Fiquei espantada e tenho noção que não consegui imediatamente interiorizar o sucedido.
Lembro-me que as pessoas acorreram aos supermercados e eu, apenas comprei mais umas papas Cerelac e Nestum para o meu filho, para ter stock que permitisse encarar uma eventual situação de carência.
Mas decorria o noticiário e qual não é o nosso espanto quando ele, que estava a dormir na sua caminha, pela primeira vez, nos aparece sozinho a andar pelo corredor. Tinha na altura já 13 meses e se começou a falar aos 9 M, andar sem apoio de mão era para ele um bico de obra.
De imediato nos veio à ideia que iria certamente acabar o suplício da Guerra Colonial. O meu marido foi um dos que sofreram a situação no Norte de Moçambique; sofreu uma emboscada, foi ferido e escapou no meio de uma amálgama de ferros torcidos com um projétil que lhe entrou na zona da anca (ia sentado no camião que explodiu). Ainda hoje fala transtornado do que se seguiu e do que teve de fazer aos colegas que faleceram na altura no local.
Tenhamos fé que o nosso país recupere a situação económica, que alcancemos um Governo que nos permita viver em dignidade e que nos devolva os filhos e netos que tiveram de partir em busca de uma vida capaz.
Feliz dia para todos vós!