terça-feira, 10 de abril de 2012

Que saudades...






Hoje lembrei-me de  António Feijó  e recordei as minhas aulas de Português, em 1965, onde a Drª Belarmina Machado nos abria o espírito à poesia.

Ao tempo, deliciei-me com as suas declamações que faziam das aulas autênticas sessões de leitura poética. Primeiro, ela lia e vibrava como se a declamação lhe saísse de um espírito e de uma alma em ebulição. De seguida, fazia-nos as perguntas de interpretação na certeza de que a nossa atenção teria sido suficiente para podermos entender o que tínhamos ouvido.

Era uma senhora de meia idade que deixava transparecer, ao que nos parecia, um desgosto de amor; poderia ter sido na juventude, ou não, um amor não correspondido, um amor pautado pelo abandono, quem sabia?

Os autores sucediam-se guiados pelo programa obrigatório e algumas vezes ao acaso da sua imaginação e gosto.

Marcou-me imenso e não tenho dúvidas que foi uma das grandes influencias que confirmaram a minha vontade, que já vinha de trás, de me dedicar mais às letras do que aos números. Vi-a muitos anos depois numa rua de Lisboa e fiz questão de lhe falar e de lhe relembrar as nossas vivências. Confirmou que se lembrava de mim e estivemos um pouco à conversa. Perdi-lhe o rasto e hoje, é pouco provável que esteja ainda entre nós.

De qualquer modo, agradeço-lhe sempre pelo papel que representou na minha vida.

Por isso, e para que apreciem algumas das suas preferências, aqui fica:


António Feijó (1859-1917)
O AMOR E O TEMPO

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

— Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Por que voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento.

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»


Tenham uma boa semana e façam tudo para ultrapassar este momento que atravessamos,  do qual nem quero falar, porque tudo o que ouço e vejo me dá cada vez mais agonias.

Creio que nem no tempo da ditadura  se assistiu a tanto sentimento de irreflexão, mentira, insensibilidade e desumanidade.

Vou tentar pensar noutras coisas para não ficar xoné cedo de mais.

1 comentário:

  1. O Feijó era um pessimista.

    Não acredite em tudo o que ele disse

    bjsgdsmts

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