Miguel Torga
Portugal
Portugal
[1907-1995]
Frustração
Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga, in 'Diário XV'
Quase um Poema de Amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Miguel Torga, in 'Diário V'
Hoje não são precisas palavras.
Miguel Torga tinha o condão de nos fazer entender o seu sentir.
Gostaram ?
Lindo o poema de amor do Torga que, por acaso não conhecia.
ResponderEliminarSimples, como ele sabia exprimir-se.
Gostei e obgda. pela visita ao meu Jardim.
Não,
ResponderEliminarum poema de amor não acontece por encomenda.
Assim como o amor não se procura
o poema não se descobre em algum sítio, escondido.
Simplesmente acontece.
Por capricho dos deuses ou dos acasos,
(que talvez sejam a mesma coisa)
o amor nem sempre aparece na Primavera.
A vida, meu amor,
é uma tômbola.
Não é por nós rodarmos
que roda a roda dela.